terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

DEUS NÃO ME OUVE...




Diante de situações difíceis da vida podemos nos posicionar de várias formas; uma delas é jogar a culpa em Deus, afirmando que Ele é o culpado de nossa situação; que Ele não escuta minha oração; que quanto mais rezo mais as coisas pioram... e assim por diante.

Será que realmente a culpa é de Deus? Será que Ele não está me ouvindo?

Esse pensamento nos mostra o que esperamos de Deus ou porque o buscamos.

Buscamos a Deus como solução de problemas? Buscamos a Deus para ficar ricos?
Ou buscamos a Deus porque Ele é o sentido da vida, porque pode nos dar forças, porque pode nos iluminar?

Fé não é magia. Deus não é um “resolvedor” automático de problemas. Rezar não é igual apertar um botão: clicou, acendeu.  Se Deus nos criasse pra depois ficar resolvendo nossos problemas, a criação não teria sentido. Ele nos criou pra que pudéssemos nos desenvolver, nos tornar melhores e aplicarmos a inteligência e capacidade que Ele mesmo nos deu. Se algo está errado é sinal de que alguma coisa precisa ser mudada, melhorada. Não adianta desrespeitar todas as leis de trânsito e, depois do acidente, culpar a Deus. É necessário mudar atitudes.

Eu não rezo a Deus para não ter problemas. Rezo para ter forças de enfrenta-los: “no mundo tereis tribulações, mas tende coragem, Eu venci o mundo”, diz Cristo.
Lembro de uma passagem muito forte e significativa da Sagrada Escritura. Nessa passagem Cristo está prestes a ser preso. Está no Jardim das Oliveiras. Sabe que em poucas horas será preso, torturado, morto. Nessa hora se dirige a Deus Pai e lhe diz: “Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres”. (Mt, 26,39)

Naquele momento não foi possível que o cálice fosse afastado. Naquele momento o sofrimento de Cristo era necessário. Só aquele gesto de entrega por amor seria capaz de trazer a redenção. Só esta prova de amor extremo seria capaz de restaurar a humanidade.
Deus não nos abandona; Ele nos dá capacidade de superar e vencer os momentos difíceis. Dentro de nós está a capacidade de mudança.

Talvez a dificuldade pela qual passamos em determinado momento da vida seja sinal de que existe algo errado em nossas atitudes e que precisa ser revisto, assimilado e mudado

Não precisamos pedir que Deus afaste de nós o sofrimento, a dor. Precisamos pedir que se for possível que o afaste. Se não for possível que eu o assuma. Às vezes a mudança está dentro de nós e está mais perto do que imaginamos. São as feridas que nos tornam mais fortes, mais maduros, melhores. Se eu assumo minhas feridas elas me fazem mudar.


Pe. Gilberto A. Bocon sdP

SOBRE SER LUZ E SABOR






Sábado, dia 09 de fevereiro antes de prepara a homilia para as missas do VI Domingo do Tempo Comum, logo de manhã, estava lendo algumas noticias na internet. Uma noticia em especial me chamou a atenção. A ONU (organização das nações unidas) havia enviado ao vaticano um relatório no qual, entre outras coisas, pedia à Igreja que fosse mais flexível em seu discurso em relação a temas como aborto, contracepção, homossexualismo e divórcio.
Logo em seguida, fui ler o Evangelho deste dia. Neste Evangelho Jesus pedia aos discípulos para serem “sal da terra e luz do mundo”. Isso me levou a refletir como realmente a Igreja deve permanecer firme em seu ensinamento, pois se ela deixar de falar e ensinar aquilo que está no Evangelho de Cristo, ela não vai ser sal nem luz para ninguém; será igual a qualquer outra instituição que procura se adaptar ao momento ou àquilo que o consenso social prega e ensina. Se ela relativizar seu ponto de vista, não estará ensinando nada de novo e não estará sendo uma proposta diferente para os problemas sociais que o mundo de hoje enfrenta. Se o sal perder o gosto não serve para mais nada a não ser jogado fora, diz Cristo. Se a Igreja perder o essencial do sabor do Evangelho ela também não servirá para mais nada.
O diferencial da Igreja é seu ensinamento. Ensinamento que não é nenhuma imposição a ninguém, mas uma proposta. Segue quem quer. . As leis e ensinamentos da Igreja são para serem vividos por quem a aceita e segue livremente acreditando que estão baseados fielmente nas palavras de Cristo e que, por isso, tem proposta de vida plena. Por isso a Igreja tem o direito de falar e ensinar livremente a sua doutrina, pois ela não impõe nenhuma lei que deve ser observada por quem não a segue, embora a Igreja acredite que seu ensinamento é válido para todo ser humano e lute para que essas leis divinas sejam aplicadas também no ambiente social.
Aquele que acredita na Igreja, crê que ela, baseada no Evangelho, tem uma proposta de vida plena, uma proposta que é a resposta para muitos problemas que o ser humano moderno está enfrentando.
Por isso é fundamental um profundo conhecimento do Evangelho e da Doutrina Social e Moral da Igreja.
Se você discorda de algo que a Igreja ensina, procure, antes de criticar, conhecer os dois lados. Nunca se deve fazer um julgamento unilateral.

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Ainda a respeito da reflexão sobre o pedido de sermos “sal da terra e luz do mundo” fui levado a refletir ainda sobre a aplicação deste ensinamento de Cristo na vida pessoal do ser humano, pois todos somos chamados a ser sal e luz para quem convive conosco.
E como é triste ver uma família cujos membros já não são mais sal e luz; cujos membros já não sentem gosto de estar um na presença do outro e quando um já não procura iluminar e mostrar um caminho para o outro.
Como é triste ver uma esposa que já não sente prazer com a presença do esposo, que já não quer sair com o esposo ou dele tem vergonha, ou que já não tem mais gestos de carinho nem dormem mais no mesmo quarto.
Como é triste ver um esposo que já não sente prazer de, depois de um dia cansativo de trabalho, voltar para casa para descansar. Somente encontra problemas e uma esposa que só sabe reclamar de tudo e de todos. Para este esposo é muito melhor ficar no bar na companhia dos amigos do que voltar para casa e se sentir desconfortável e não acolhido.
Como é triste ver pais que já não são mais luz para os filhos; quando são vergonha para eles, quando não conversam, não compreendem, não ouvem
Como é triste ver filhos que são motivo de desgosto para os pais, quando os pais choram de desgosto com um amor infinito guardado no coração e não correspondido. Quando os filhos já não dão mais gosto aos pais, mas somente desgosto.
É sobre isso que Cristo nos chama a refletir: minha família tem gosto de estar na minha presença? Estou sendo uma luz para minha família? Estou amando, compreendendo, escutando, ensinando...? Estou sendo motivo de desgosto e trevas para alguém?

Que a Palavra de Deus sempre nos estimule a crescer e a melhorar!



Pe. Gilberto A. Bocon sdP