sexta-feira, 18 de setembro de 2015

DIFICILMENTE UM RICO...

Caros amigos leitores e leitoras, gostaria de refletir um pouco sobre um texto interessante e profundo que encontramos no Evangelho de Lucas (18, 18-30). Neste texto o evangelista relata as seguintes palavras de Jesus: É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus.

            Temos aqui duas coisas interessantes para refletir: 1) a comparação usada por Jesus (um camelo passar pelo buraco de uma agulha); 2) a dificuldade para um rico entrar no reino de Deus.

            No primeiro caso, há os que interpretam o texto afirmando que na língua hebraica a palavra “agulha” poderia designar uma pequena porta de entrada do aprisco das ovelhas (por onde seria difícil um camelo passar); há outros que afirmam que, a palavra “camelo” na língua hebraica poderia designar uma corda grossa usada pelos marinheiros (que dificilmente passaria pelo buraco de uma agulha de costura).

            Mas na realidade quando Cristo diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, ele está usando uma figura de linguagem chamada Hipérbole, semelhante a muitas que usamos em nossos dias: "Eu chorei rios de lágrimas”, "você me faz morrer de rir”, "eu quero ter um milhão de amigos!". Um exagero da parte de Cristo que não indica impossibilidade.

            Sendo assim, para entender o que Cristo afirma sobre a dificuldade de um rico entrar no Reino de Deus, devemos compreender bem o que Ele quer dizer com a palavra “rico”. Se for quantidade de dinheiro acumulada, Cristo se torna injusto, pois Ele não pode impedir um rico caridoso, desapegado e fiel aos seus ensinamentos de entrar no Reino de Deus. Na verdade o que Cristo quer destacar aqui é o apego exagerado aos bens materiais. Bens que são necessários para nosso conforto e bem-estar, mas que não devem ocupar o centro da nossa vida nos tornando escravos.

            Nem Cristo nem o cristianismo condenam a riqueza em si, mas a injustiça social que vem pelo acúmulo exagerado de alguns e a miséria de outros; nem Cristo nem o cristianismo afirmam que, pelo fato de ser pobre, a pessoa já está com o céu garantido. É preciso, em ambos os casos, viver a fé e os seus ensinamentos.

            Desejo que possamos, nesta Quaresma, praticar a virtude de caridade!

            É isso!

AMAI OS VOSSOS INIMIGOS...

Caros amigos e amigas leitores, o Evangelho de Lucas (6,27-38) nos apresenta Jesus transmitindo o seguinte ensinamento aos seus discípulos: “digo-vos a vós que me ouvis: amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos maldizem e orai pelos que vos injuriam. Ao que te ferir numa face, oferece-lhe também a outra. E ao que te tirar a capa, não impeças de levar também a túnica. Dá a todo o que te pedir; e ao que tomar o que é teu, não lho reclames. “

            À primeira vista parece um ensinamento que contradiz completamente aos nossos impulsos e sentimentos diante de algo que nos afeta. Nossa tendência quase que automática é revidar o mal recebido. Mas aqui Jesus nos pede para pensar bem antes de agir para que nossas atitudes não alimentem ainda mais o mal. Notamos que  neste texto Jesus não está dizendo que o cristão deve ser bobo e se deixar ser explorar e humilhar; Cristo quer nos ensinar que não devemos levar o mal adiante. Se eu condeno uma pessoa porque ela fez uma fofoca sobre mim e, para me vigar, faço uma fofoca ainda maior sobre ela, estou me tornando uma pessoa duas vezes pior do que aquela que me fez o mal. O mal não se paga com o mal, mas com o bem.

            É fundamental aqui compreender o que significa amor. Aqui amor não é sentimento, ou seja, o amor do qual fala Cristo é diferente de gostar. Cristo não pede ao cristão para gostar do seu inimigo, mas pede para “abençoar” e “orar” e “amar”.

            Aqui compreendemos que se você for capaz de rezar por quem te fez o mal, pedindo a Deus para que ele mude e não faça mais o mal nem a você nem a outra pessoa, você está amando. Amar é antes de tudo uma atitude de quem não se rebaixa ao mal; é uma atitude de maturidade e sabedoria; atitude que mata o mal pela raiz; atitude que de quem deseja que o outro seja uma pessoa melhor apesar de suas fraquezas e limites.

            Que possamos viver mais esse grande ensinamento de Cristo.

            É isso!

QUANDO DERES UMA FESTA...

            



Caros amigos leitores e leitoras, existem textos da bíblia que, se pegados ao pé da letra ou isolados do seu contexto histórico, podem soar estranhos para nós. Um exemplo típico é o texto de LC 14, 12-13. Nele o evangelista narra o seguinte ensinamento de Jesus:

“Dizia igualmente (Jesus) ao que o tinha convidado: “Quando deres alguma ceia, não convides os teus amigos, nem teus irmãos, nem os parentes, nem os vizinhos ricos. Porque, por sua vez, eles te convidarão e assim te retribuirão. Mas, quando deres uma ceia, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos...”

            Este texto, se interpretado ao pé da letra poderia parecer estranho: por que Cristo diz que quando fizermos uma festa não devemos convidar nem a família e nem os amigos? Será que para sermos fiéis ao evangelho não devemos convidar nossa família para nenhuma festa em nossa casa? Uma coisa dessas soaria até anti-evangélica, pois em nenhum momento Cristo nos pede para desprezar a família. Muito pelo contrário. A família tem um lugar central na mensagem cristã.

            Como entender corretamente este ensinamento?  Este texto nos ensina a viver a virtude da gratuidade. Pensar: “não vou convidar esta pessoa para minha festa porque quando ela fez uma festa não me convidou...” nos estimula a conservar no coração outros pecados como a raiva, inveja, ressentimento, avareza... A gratuidade nos liberdade! Fazer algo para o outro sem esperar nada em troca nos traz paz e satisfação.


            Que possamos sempre nos abrir à generosidade e à gratuidade fazendo o bem a quem precisar!

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

PARA LER BEM A BÍBLIA II


            Caros leitores, estamos em Dezembro, mês no qual refletimos sobre o Natal do Senhor.

            Cremos que Maria concebeu a Jesus por obra do Espirito Santo e que, portanto, não precisou de uma relação sexual para ficar grávida; e por ter sido agraciada por Deus, permaneceu virgem e não teve mais filhos. É isso que nos ensina nossa fé.

            Mas por que então Mateus 12,46 afirma: “Falava Jesus à multidão quando sua mãe e seus irmãos chegaram do lado de fora, querendo falar com ele". ?

            Como compreender isso uma vez que acreditamos na Virgindade de Maria?
            
               Para entender devemos ter presente duas coisas:

           1. A língua falada por Jesus, o hebraico, usava a mesma palavra “irmãos” para se referir aos parentes mais próximos, como os primos. Portanto os chamados “irmãos de Jesus” eram provavelmente seus primos;

           2.  Há também a hipótese segundo a qual estes ‘irmãos’ de Jesus eram filhos somente de S. José, pois, provavelmente, quando ele se casou com Maria já era viúvo. Isso se supõe pelo fato de São José ser um pouco mais velho quando casou com Maria e pelo fato de, muito provavelmente, ter morrido antes da morte de Jesus;

            Há também um fato muito significativo sobre isso: a passagem de Jo 19,26-27 que diz Jesus, vendo ali sua mãe, e que o discípulo a quem ele amava estava presente, disse à sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa”.

             Este texto nos mostra claramente que Jesus era filho único e Maria era viúva. Se isso não fosse verdade não haveria necessidade de Jesus se preocupar com o sustento de sua mãe, pois haveriam outros filhos para cuidar dela. Mas Jesus se preocupa em entregá-la aos cuidados de João porque sabe que ela ficaria sozinha depois da Sua morte.

            É isso.


            Um Feliz Natal a todos!