quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

AMAR O INIMIGO É MAIS FÁCIL DO QUE VOCÊ IMAGINA!




No Evangelho de Mateus 5,44 Jesus afirma: “... amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos maltratam e perseguem...”. Este ensinamento deixado por Cristo “parece” ser uns dos mais difíceis de serem vividos, mas ao mesmo tempo é um dos mais libertadores de toda Sagrada Escritura. Dizia eu que “parece” ser um dos mais difíceis porque muitas vezes achamos ser quase impossível amar um inimigo porque não compreendemos exatamente o que Jesus entende por “amor”. Nossa compreensão sobre o que seja “amor” é diferente do que Jesus compreende.

Frequentemente confundimos “amar” com “gostar”. Gostar é um sentimento; só gostamos de quem nos agrada, de quem nos faz o bem, de quem é simpático. Não gostamos de quem nos desagrada, de quem nos faz o mal, de quem é antipático.

Mas notemos uma coisa fundamental: em nenhum momento Jesus pede para “gostarmos” dos nossos inimigos.

O que isso significa? Significa que podemos amar um inimigo mesmo não gostando dele. “Gostar” e “amar” são duas coisas completamente diferentes.

Jesus nos deixou a maior prova de amor quando morreu pregado na cruz. Naquele momento rezou dizendo: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem” (Lc 23,34). Ele rezou pedindo por aqueles que O estavam matando. Certamente não “gostava” deles, mas os “amava”. Morreu também por eles desejando que mudassem suas atitudes de maldade e injustiça e se tornassem melhores.

Assim também uma mãe que perdeu um filho assassinado pode amar os assassinos de seu filho. Jesus não pede para esta mãe gostar dos assassinos. Pede que esta mãe reze por eles, para que paguem justamente o que fizeram, se arrependam e numa mais façam algo parecido com ninguém. Isso é amor. É uma atitude, não um sentimento.

Essa é a maior experiência de libertação que uma pessoa pode fazer em sua vida. O perdão e o amor nos libertam de mágoas, ressentimentos, ódios... que nos oprimem e fazem sofrer; nos dão serenidade e paz.


Reze por quem te fez o mal; retribua o mal com o bem. Perdoar e amar a quem nos fez o mal não é atitude de humilhação ou rebaixamento; é atitude de maturidade. Faça isso e você verá como as palavras de Cristo lhe farão bem e lhe trarão paz. 



Pe. Gilberto A. Boçon sdP.


* Na imagem acima: O turco Memhmet Ali Agca, que atirou contra o papa João Paulo II em 1981. Ainda no hospital o papa disse: "Rezo pelo irmão que me atingiu, a quem perdoei sinceramente"

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

IMPORTA-SE CONOSCO

Por: Pe. Zezinho



“Duvido que Ele se importe conosco!” – disse aquele prisioneiro, zangado com o fato de que haviam morrido cinco companheiros seus nas celas vizinhas. E concluiu: “-Estamos aqui, abandonados de tudo e de todos. Até Deus se esqueceu de nós. Ele nunca perdoou nosso crime!”
Escutar um homem gritando isso pelos corredores e sua voz ressoando nos nossos ouvidos, dói, dá vontade de voltar lá e, como padre, tentar uma conversa com ele. Mas ele não vai aceitar. Afinal, que explicação teria eu, que acredito em Deus, para uma pessoa que se sente abandonada por Deus? Que frases da Bíblia usarei, se de antemão sei que não vai acreditar nelas. Que pensamentos clássicos da fé usarei, se ele já decidiu que não acredita neles?
O fato é que, sofrendo, machucado na alma, ele acha que Deus não se importa com ele, porque seu sofrimento nunca foi amenizado. Não está sozinho. Muita gente diz isso -”Acho que Deus me jogou aqui e me esqueceu. Ele não se importa com o que acontece comigo.” Aí vem Jesus e diz que devemos olhar os lírios do campo e que devemos procurar, primeiro, o reino de Deus, que o resto nos será dado como acréscimo. Muito mais. Vem Jesus e diz que até os fios de cabelo que estão na nossa cabeça, Deus conhece. Mas, como convencer uma pessoa que Deus se importa conosco e com cada célula de nosso corpo, se acontecem coisas ruins com as pessoas e Ele não interfere?
O mistério do bem e do mal sempre existirá. Quem por acaso, fizer uma leitura acurada do livro de Jó, vai descobrir que o livro se debruça sobre o mistério do sofrimento humano do começo ao fim. Desgraça após desgraça, só no fim é que Jó entende que Deus se importa com ele. Mas durante todo o período de sofrimento, assaltavam-lhe dúvidas cruéis. Era demais para a sua cabeça. Jó é um pouco de todos nós. Quando estamos bem não nos importamos muito com Deus. Quando estamos mal, gostaríamos que Ele se importasse conosco. Como explicar ao ser humano, que o mistério da graça é mistério que se pode tentar entender, mas que não é fácil ? Vivemos cercados de mistérios e um deles é a existência do mal no mundo. O bem nos parece natural que exista. É o mal que dói, sempre além da conta, porque é um mistério que incomoda. Oremos para entender os desafios da vida.


“DEVO ESTAR PAGANDO O PECADO DE ALGUÉM...”






Caros amigos leitores, muitas vezes ouvi pessoas que estão passando por algum sofrimento na vida afirmarem: “devo estar pagando o pecado de alguém”. Certamente você já deve ter ouvido ou até falado algo parecido.

Há uma passagem do Evangelho (Jo 9, 1-3) na qual, diante de um cego de nascença, os discípulos perguntaram a Jesus: "Mestre, quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?”. Ao que Jesus respondeu: “Nem ele nem seus pais...”

Se ele tivesse pecado para nascer cego, teríamos que admitir a teoria da reencarnação, segundo a qual estamos aqui para pagar pelos pecados de vidas passadas até chegar ao estado de perfeição. Notemos que nesta simples resposta Cristo descarta esta teoria.
Se ele estivesse pagando pelo pecado dos pais, teríamos que admitir a existência de um Deus injusto e vingativo. E não é essa a imagem de Deus que Jesus nos transmite: Deus é um Deus de amor. Quem ama não faz o outro sofrer para pagar nenhum erro; simplesmente ama, compreende, perdoa, dá uma segunda chance.

Por que sofremos, então? Bem, aqui a resposta é bem mais complexa. Talvez não tenhamos sequer uma resposta satisfatória. Mas uma coisa é certa: Deus não manda sofrimento para ninguém como castigo.

Os sofrimentos, a dor, a morte fazem parte do nosso ser corporal e limitado; não somos “deuses” para podermos ser perfeitos.

Existem sofrimentos que fazem parte da nossa existência corporal; existem sofrimentos que são causados pela maldade de outros seres humanos; existem sofrimentos que podem ser evitados; existem sofrimentos que não podem ser evitados.

Por que? Não há um porque. O mundo limitado, finito e em evolução no qual vivemos é assim.

O que podemos fazer é procurar agir bem em nossas atitudes de modo que não sejamos causa de dor e sofrimento para ninguém; agir de maneira a sanar a dor e o sofrimento alheio através de atitudes de caridade e solidariedade; aceitar as dores e sofrimentos que não podemos evitar, de maneira a aprender, crescer, amadurecer e nos tornar pessoas melhores, mais compreensivas e amáveis; estar ao lado de quem sofre oferecendo não explicações, mas a presença e a ajuda necessária.


Talvez hoje não compreendamos muitas coisas que se passam conosco. Mas façamos como Jesus no Jardim das Oliveiras pouco antes de ser preso: “Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que eu o beba, seja feita a tua vontade!” (Mt 26, 42). Esta oração nos liberta e nos dá serenidade para mudar o que pode ser mudado e aceitar o que não pode ser mudado.


Pe. Gilberto A. Boçon sdP.
Entrevista concedida pelo Pe. Gilberto 

ao Jornal "Voz dos Paduanos" 

da Paróquia Santo Antônio de Igarapé - MG




Edição Janeiro 2014




1. Quando e onde entrou para o seminário ?
Dia 17/02/1994. Seminário “Pe. Giácomo Cusmano” dos Missionários Servos dos Pobres de Curitiba.

2. Quando e porque decidiu ser padre ?
Por volta dos 12 anos de idade tive curiosidade de conhecer a vida do seminário. A decisão de ser padre não acontece em um momento determinado, mas se faz a cada dia da formação recebida e à medida que o conhecimento de Cristo e o amor à Igreja vão se tornando o sentido da vida e das escolhas da pessoa.

3. Alguém influenciou nessa escolha ?
Ninguém influencia a gente a se tornar padre. É uma opção pessoal. Mas logicamente que os exemplos de pessoas dedicadas a Deus e à Igreja contribuem para a tomada de decisão.

4. O que é ser padre ?
Ser padre é ser alguém que sente a importância de Deus na sua vida e que deseja transmitir essa experiência a outras pessoas.

5. O que difere a “Profissão” de padre das demais ?
Ser padre não é uma profissão; é uma vocação. Você é padre vinte e quatro horas por dia e exerce sua tarefa com alegria e dedicação sem esperar nada em troca. É algo que faz parte do seu ser; é como ser um pai ou uma mãe.

6.  Se não fosse padre qual profissão teria ?
Não sei dizer ao certo, mas provavelmente trabalharia em algum ramo da construção civil.

7.  Onde aprendeu o dom da construção civil, arquitetura e engenharia ?
Aprendi muita coisa com meus tios maternos que são pedreiros. Depois, no seminário tive a possibilidade aprender e executar muitas coisas novas, pois lá éramos nós mesmos que fazíamos a manutenção da casa, e foi lá que convivi com um padre que também gostava muito de construção e reforma de igrejas.

8. O que torna mais difícil a vida de um padre ? É solitária?
Não existe nada que torne a vida de um padre difícil. Existem situações e momentos. E isso faz parte da vida não só de um padre, mas de qualquer pessoa. E, ao contrario do que possa parecer, a vida de padre não é solitária. Às vezes as pessoas pensam que pelo fato do padre não ter família ele é triste e frustrado. Isso não é verdade. As pessoas sempre acolhem e tratam muito bem os padres e isso faz com que a gente se sinta membro de uma grande família que existe pela fé.

9.  O que acha que poderia ser mudado na Igreja Católica?
Creio que muitas mudanças necessárias na Igreja estão acontecendo com o Papa Francisco. Ele está dando mais abertura, acolhida e compreensão. Isso aproxima as pessoas de Deus.

10. É a favor do aborto, divórcio, relação homo afetiva, casamento de padre, fim do celibato ? Por quê?
Tudo que favorece a vida plena e a harmonia do ser humano criado por Deus deve ser valorizado e defendido, sempre havendo compreensão e respeito por quem optou de maneira diferente em relação àquilo que eu acredito que seja o certo.
O celibato poderia ser opcional, de maneira que quem quer servir à Igreja desta forma a sirva com alegria e quem quer servir à Igreja tendo uma família pudesse ter a oportunidade de fazê-lo.

11.  Qual o texto da Bíblia que mais gosta e por quê ?
O texto que mais me toca é o que narra o momento da crucificação de Jesus, quando Ele dirige a Deus Pai esta oração: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Esta é a maior prova do amor de Deus. Se fossemos mais capazes de rezar por quem nos faz o mal, seriamos mais felizes, mais livres, perdoaríamos mais facilmente e teríamos um mundo muito melhor.

12. Quais os Santos por quem tem devoção ?
Nossa Senhora sempre foi muito importante e presente na minha vida; gosto também de São Francisco pela sua simplicidade diante da vida e de Deus.

13. O que é mais tocante (bonito/maravilhoso) na vida de Jesus ?
Jesus foi a pessoa mais impressionante que já existiu. Sua sabedoria e liberdade são incríveis. Ele tem a receita certa para que possamos viver plenamente nossa vida e chegar à felicidade que Deus planejou ao nos criar.

14.  Qual a primeira impressão que teve quando chegou aqui em Igarapé ?
A fé e o carinho de todos sempre me impressionaram muito desde que cheguei aqui.

15. O que mais lhe causou estranheza e o que foi mais difícil para se adaptar ?
A acolhida de toda a comunidade me fez adaptar muito facilmente aqui. Estranhezas não existem; existem diferenças de um lugar para o outro, coisas que são características de cada cultura. Isso é uma grande riqueza, pois as diferenças nos fazem crescer e nos tornam pessoas melhores e mais abertas.

16. Quais as obras que você acompanhou na Matriz e nas Capelas ?
Neste período que estou aqui pude acompanhar reformas que se faziam necessárias. Reformas que aconteceriam independentemente da minha presença ou não. Creio que fiz o mais fácil que foi dar opinião e incentivar. Várias pessoas ajudaram e deram assessoria técnica. Mas na realidade quem fez as obras foram todas as pessoas que ajudaram com doações, participação nas festas e com o dízimo. Se não fosse isso, nada teria sido feito.

17. O que Igarapé representa na sua vida e como está sendo esse processo de mudança ?
Igarapé representa para mim o primeiro lugar onde exerci meu ministério sacerdotal. Por isso Igarapé ficará sempre na minha memória. Este processo de mudança está sendo difícil por um lado, porque nestes quase oito anos criei amizades e me sinto realizado pelo trabalho desenvolvido aqui. Mas por outro lado é algo que faz parte da vida do padre. Estou muito feliz por tudo que vivi neste período. Aprendi muitas coisas, cresci, amadureci e cumpri minha missão. E da mesma maneira que um dia fui chamado para servir a Igreja de Igarapé e me coloquei à disposição, hoje estou sendo chamado para servir a Igreja de outro lugar e também me coloquei à disposição.

18. O que a Igreja precisa fazer para aproximar e conquistar mais fiéis ? E o que os fiéis devem fazer para ter uma vida próxima de Jesus?
A Igreja deve levar as pessoas a fazer uma profunda experiência de Jesus, de maneira que sintam quanto Deus pode transformar suas vidas. A quantidade de fiéis é relativa; o que importa é a qualidade deles. Para que isso aconteça os fiéis devem deixar que as palavras do Evangelho toquem suas vidas. Isso se faz pela leitura, estudo e compreensão correta das palavras de Jesus e pela participação ativa na vida da Igreja.

19. Qual(ais) música(s) e banda/conjunto(s) de música religiosa e “profana” que mais gosta ?
Quando se fala de música religiosa é impossível deixar de falar do Pe. Zezinho. Gosto principalmente das letras das suas músicas. Entre outros, destacaria Anjos de Resgate e Rosa de Saron. Quanto a musicas não-religiosas, gosto de bandas como Bee Gees, Abba, Roupa Nova, Raul Seixas...

20.  Qual música seria trilha sonora da sua vida ?
Gosto muito da musica “Do alto da Pedra” da banda Rosa de Saron, principalmente a parte que diz: Do alto da pedra eu busco impulso pra saltar mais alto que antes. Bem mais que tudo eu quero ir. Uma vez que faz me sentir alguém é pra todo sempre. Não quero minha vida igual a tudo que se vê”.

21.  Defina Deus, Jesus e o Espírito Santo.
Deus: é o sentido de tudo o que existe;
Jesus: deu-nos a maior prova do amor de Deus quando morreu pregado na cruz;
Espirito Santo: é quem faz com que a Igreja continue atuante e viva apesar das falhas e pecados dos que fazem parte dela.

22. O que é a vida ?
É o maior mistério do amor de Deus.

23. Qual frase, poema, pensamento de que mais gosta ?
“Faça ao próximo o que gostaria que fosse feito a você”. (Mt 7,12)

24.Qualidades e defeitos do Gilberto Antônio Boçon.
Uma coisa que talvez para alguém seja um defeito, mas que vejo como uma qualidade, é que prefiro ouvir do que falar. A timidez ainda é uma coisa que me incomoda e atrapalha um pouco.

25. Qualidades e defeitos do PADRE Gilberto Antônio Boçon.
Como padre eu tento sempre crescer e melhorar para tornar a Palavra de Deus acessível e atual. Creio que isso seja uma qualidade.
Quanto aos defeitos, certamente tenho muitos. Enumerá-los aqui seria achar que tenho poucos. Mas creio que são os defeitos que me fazem mais humano e humilde. Aliás, são eles que me fazem querer crescer e me tornar melhor; são eles que demonstram que é a graça de Deus que age através de mim e que tudo o que faço não faço pelas minhas capacidades, mas pelo dom de Deus.