Caros
amigos leitores, muitas vezes ouvi pessoas que estão passando por algum
sofrimento na vida afirmarem: “devo estar pagando o pecado de alguém”.
Certamente você já deve ter ouvido ou até falado algo parecido.
Há
uma passagem do Evangelho (Jo 9, 1-3) na qual, diante de um cego de nascença,
os discípulos perguntaram a Jesus: "Mestre,
quem pecou: este homem ou seus pais, para que ele nascesse cego?”. Ao que Jesus
respondeu: “Nem ele nem seus pais...”
Se ele tivesse pecado para nascer cego,
teríamos que admitir a teoria da reencarnação, segundo a qual estamos aqui para
pagar pelos pecados de vidas passadas até chegar ao estado de perfeição.
Notemos que nesta simples resposta Cristo descarta esta teoria.
Se ele estivesse pagando pelo pecado dos pais,
teríamos que admitir a existência de um Deus injusto e vingativo. E não é essa
a imagem de Deus que Jesus nos transmite: Deus é um Deus de amor. Quem ama não
faz o outro sofrer para pagar nenhum erro; simplesmente ama, compreende,
perdoa, dá uma segunda chance.
Por que sofremos, então? Bem, aqui a resposta é
bem mais complexa. Talvez não tenhamos sequer uma resposta satisfatória. Mas
uma coisa é certa: Deus não manda sofrimento para ninguém como castigo.
Os sofrimentos, a dor, a morte fazem parte do
nosso ser corporal e limitado; não somos “deuses” para podermos ser perfeitos.
Existem sofrimentos que fazem parte da nossa
existência corporal; existem sofrimentos que são causados pela maldade de
outros seres humanos; existem sofrimentos que podem ser evitados; existem
sofrimentos que não podem ser evitados.
Por que? Não há um porque. O mundo limitado,
finito e em evolução no qual vivemos é assim.
O que podemos fazer é procurar agir bem em
nossas atitudes de modo que não sejamos causa de dor e sofrimento para ninguém;
agir de maneira a sanar a dor e o sofrimento alheio através de atitudes de
caridade e solidariedade; aceitar as dores e sofrimentos que não podemos evitar,
de maneira a aprender, crescer, amadurecer e nos tornar pessoas melhores, mais
compreensivas e amáveis; estar ao lado de quem sofre oferecendo não explicações,
mas a presença e a ajuda necessária.
Talvez hoje não compreendamos muitas coisas que
se passam conosco. Mas façamos como Jesus no Jardim das Oliveiras pouco antes
de ser preso: “Meu Pai, se este cálice não pode passar sem que
eu o beba, seja feita a tua vontade!” (Mt 26, 42). Esta oração nos liberta e
nos dá serenidade para mudar o que pode ser mudado e aceitar o que não pode ser
mudado.
Pe. Gilberto A. Boçon sdP.
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