Entrevista concedida pelo Pe. Gilberto
ao Jornal "Voz dos Paduanos"
da Paróquia Santo Antônio de Igarapé - MG
Edição Janeiro 2014
1. Quando e onde entrou para o seminário
?
Dia 17/02/1994. Seminário “Pe.
Giácomo Cusmano” dos Missionários Servos dos Pobres de Curitiba.
2. Quando e porque decidiu ser padre ?
Por volta dos 12 anos de idade tive
curiosidade de conhecer a vida do seminário. A decisão de ser padre não
acontece em um momento determinado, mas se faz a cada dia da formação recebida
e à medida que o conhecimento de Cristo e o amor à Igreja vão se tornando o
sentido da vida e das escolhas da pessoa.
3. Alguém influenciou nessa escolha ?
Ninguém influencia a gente a se
tornar padre. É uma opção pessoal. Mas logicamente que os exemplos de pessoas
dedicadas a Deus e à Igreja contribuem para a tomada de decisão.
4. O que é ser padre ?
Ser padre é ser alguém que sente a
importância de Deus na sua vida e que deseja transmitir essa experiência a
outras pessoas.
5. O que difere a “Profissão” de padre
das demais ?
Ser padre não é uma
profissão; é uma vocação. Você é padre vinte e quatro horas por dia e exerce
sua tarefa com alegria e dedicação sem esperar nada em troca. É algo que faz
parte do seu ser; é como ser um pai ou uma mãe.
6. Se não fosse padre qual profissão
teria ?
Não sei dizer ao certo, mas
provavelmente trabalharia em algum ramo da construção civil.
7. Onde aprendeu o dom da construção
civil, arquitetura e engenharia ?
Aprendi muita coisa com meus tios
maternos que são pedreiros. Depois, no seminário tive a possibilidade aprender
e executar muitas coisas novas, pois lá éramos nós mesmos que fazíamos a manutenção
da casa, e foi lá que convivi com um padre que também gostava muito de
construção e reforma de igrejas.
8. O que torna mais difícil a vida de um
padre ? É solitária?
Não existe nada que torne a vida de
um padre difícil. Existem situações e momentos. E isso faz parte da vida não só
de um padre, mas de qualquer pessoa. E, ao contrario do que possa parecer, a
vida de padre não é solitária. Às vezes as pessoas pensam que pelo fato do
padre não ter família ele é triste e frustrado. Isso não é verdade. As pessoas
sempre acolhem e tratam muito bem os padres e isso faz com que a gente se sinta
membro de uma grande família que existe pela fé.
9. O que acha que poderia ser mudado na
Igreja Católica?
Creio que muitas mudanças necessárias
na Igreja estão acontecendo com o Papa Francisco. Ele está dando mais abertura,
acolhida e compreensão. Isso aproxima as pessoas de Deus.
10. É a favor do aborto, divórcio,
relação homo afetiva, casamento de padre, fim do celibato ? Por quê?
Tudo que favorece a vida plena e a harmonia do ser humano criado por Deus
deve ser valorizado e defendido, sempre havendo compreensão e respeito por quem
optou de maneira diferente em relação àquilo que eu acredito que seja o certo.
O celibato poderia ser opcional, de maneira que quem quer servir à Igreja
desta forma a sirva com alegria e quem quer servir à Igreja tendo uma família
pudesse ter a oportunidade de fazê-lo.
11. Qual o texto da Bíblia que mais gosta
e por quê ?
O texto que mais me
toca é o que narra o momento da crucificação de Jesus, quando Ele dirige a Deus
Pai esta oração: “Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem”. Esta é a
maior prova do amor de Deus. Se fossemos mais capazes de rezar por quem nos faz
o mal, seriamos mais felizes, mais livres, perdoaríamos mais facilmente e
teríamos um mundo muito melhor.
12. Quais os Santos por quem tem devoção
?
Nossa Senhora sempre
foi muito importante e presente na minha vida; gosto também de São Francisco pela
sua simplicidade diante da vida e de Deus.
13. O que é mais tocante
(bonito/maravilhoso) na vida de Jesus ?
Jesus foi a pessoa mais
impressionante que já existiu. Sua sabedoria e liberdade são incríveis. Ele tem
a receita certa para que possamos viver plenamente nossa vida e chegar à
felicidade que Deus planejou ao nos criar.
14. Qual a primeira impressão que teve
quando chegou aqui em Igarapé ?
A fé e o carinho de todos sempre me
impressionaram muito desde que cheguei aqui.
15. O que mais lhe causou estranheza e o
que foi mais difícil para se adaptar ?
A acolhida de toda a comunidade me
fez adaptar muito facilmente aqui. Estranhezas não existem; existem diferenças
de um lugar para o outro, coisas que são características de cada cultura. Isso
é uma grande riqueza, pois as diferenças nos fazem crescer e nos tornam pessoas
melhores e mais abertas.
16. Quais as obras que você acompanhou na
Matriz e nas Capelas ?
Neste período que estou aqui pude
acompanhar reformas que se faziam necessárias. Reformas que aconteceriam
independentemente da minha presença ou não. Creio que fiz o mais fácil que foi
dar opinião e incentivar. Várias pessoas ajudaram e deram assessoria técnica.
Mas na realidade quem fez as obras foram todas as pessoas que ajudaram com
doações, participação nas festas e com o dízimo. Se não fosse isso, nada teria sido
feito.
17. O que Igarapé representa na sua vida
e como está sendo esse processo de mudança ?
Igarapé representa para mim o
primeiro lugar onde exerci meu ministério sacerdotal. Por isso Igarapé ficará
sempre na minha memória. Este processo de mudança está sendo difícil por um
lado, porque nestes quase oito anos criei amizades e me sinto realizado pelo
trabalho desenvolvido aqui. Mas por outro lado é algo que faz parte da vida do
padre. Estou muito feliz por tudo que vivi neste período. Aprendi muitas
coisas, cresci, amadureci e cumpri minha missão. E da mesma maneira que um dia
fui chamado para servir a Igreja de Igarapé e me coloquei à disposição, hoje
estou sendo chamado para servir a Igreja de outro lugar e também me coloquei à
disposição.
18. O que a Igreja precisa fazer para
aproximar e conquistar mais fiéis ? E o que os fiéis devem fazer para ter uma
vida próxima de Jesus?
A Igreja deve levar as pessoas a
fazer uma profunda experiência de Jesus, de maneira que sintam quanto Deus pode
transformar suas vidas. A quantidade de fiéis é relativa; o que importa é a
qualidade deles. Para que isso aconteça os fiéis devem deixar que as palavras
do Evangelho toquem suas vidas. Isso se faz pela leitura, estudo e compreensão correta
das palavras de Jesus e pela participação ativa na vida da Igreja.
19. Qual(ais) música(s) e
banda/conjunto(s) de música religiosa e “profana” que mais gosta ?
Quando se fala de música religiosa é impossível deixar de
falar do Pe. Zezinho. Gosto principalmente das letras das suas músicas. Entre
outros, destacaria Anjos de Resgate e Rosa de Saron. Quanto a musicas
não-religiosas, gosto de bandas como Bee Gees, Abba, Roupa Nova, Raul Seixas...
20. Qual música seria trilha sonora da
sua vida ?
Gosto muito
da musica “Do alto da Pedra” da banda Rosa de Saron, principalmente a parte que
diz: “Do alto da pedra eu
busco impulso pra saltar mais alto que antes. Bem
mais que tudo eu quero ir. Uma vez que faz me sentir alguém é pra
todo sempre. Não quero minha vida igual
a tudo que se vê”.
21. Defina Deus, Jesus e o Espírito
Santo.
Deus: é o sentido de tudo o que
existe;
Jesus: deu-nos a maior prova do amor
de Deus quando morreu pregado na cruz;
Espirito Santo: é quem faz com que a
Igreja continue atuante e viva apesar das falhas e pecados dos que fazem parte
dela.
22. O que é a vida ?
É o maior mistério do amor de Deus.
23. Qual frase, poema, pensamento de que
mais gosta ?
“Faça ao próximo o que gostaria que
fosse feito a você”.
(Mt 7,12)
24.Qualidades e defeitos do Gilberto
Antônio Boçon.
Uma coisa que talvez para alguém seja um defeito, mas que vejo como uma
qualidade, é que prefiro ouvir do que falar. A timidez ainda é uma coisa que me
incomoda e atrapalha um pouco.
25. Qualidades e defeitos do PADRE Gilberto Antônio Boçon.
Como padre eu tento
sempre crescer e melhorar para tornar a Palavra de Deus acessível e atual.
Creio que isso seja uma qualidade.
Quanto aos defeitos,
certamente tenho muitos. Enumerá-los aqui seria achar que tenho poucos. Mas
creio que são os defeitos que me fazem mais humano e humilde. Aliás, são eles
que me fazem querer crescer e me tornar melhor; são eles que demonstram que é a
graça de Deus que age através de mim e que tudo o que faço não faço pelas
minhas capacidades, mas pelo dom de Deus.
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