sábado, 28 de dezembro de 2013

COM RELIGIÃO NÃO SE BRINCA

Por: Pe. Zezinho




Para nós, crentes em Jesus, o milagre existe. Deus intervém. Mas não quando queremos, nem quando garantimos o dia, a tarde, o lugar e a hora. Aí, já é brincar com Deus. Jesus fez muitos milagres e se negou a fazê-los quando gente maldosa os queria para seus interesses. Deu-se o mesmo com os discípulos. Foram severos contra os aproveitadores da fé.
O milagre é de Deus, dado por meio de quem não se aproveita dele e para quem precisa de verdade. Não é para pregador se exibir anunciando como milagre o que não é, nem foi. Infelizmente muitos fiéis e pregadores se exibiram através dos milagres, que em geral se revelaram falsos. Jesus já prevenira contra esse tipo de gente que brinca com profecias, visões, milagres ou poderes, exibindo seus dotes de taumaturgos, videntes ou exorcistas.
Hoje com a televisão, a tentação ficou maior. Andam expulsando até o demônio da unha encravada. Há muita gente dizendo que viu o que não viu, anunciando visões de aparições que não existiram e milagres que não foram milagres. Um olhar atento mostra que anunciaram depressa demais o milagre por eles realizado, e apareceram no grupo ou na mídia como gente de poder. Depois ou se revela engano, ou embuste. A maioria nunca pediu desculpas. Mas prosseguiram enganando.
Milagre, aparição, revelação é coisa séria. Cuidado com quem diz que Deus lhe falou! Dê um tempo. Saberá se foi verdade.





É CORRETO RECORRER A BENZEDEIRAS?






Nestes dias recebi em meu e-mail uma dúvida de uma a respeito das benzedeiras. Achei muito pertinente a pergunta, pois muitas pessoas vem até nós padres para perguntar: é correto ou não? O que a Igreja diz?

Bem, em primeiro lugar temos que ter claro o seguinte: todo cristão pode benzer. Benzer não é só tarefa do padre. Os pais podem benzer os filhos; os padrinhos podem benzer os afilhados... Enfim, todo cristão pode transmitir uma benção a alguém que lhe pede, da mesma forma que podemos rezar por alguém que nos pede. Aliás, a própria oração é uma forma de benção, pois benzer significa “bem dizer”, ou seja, dizer ou desejar algo de bom para alguém através da oração.

Em segundo lugar, temos que levar em consideração outra coisa muito importante: uma benção para ser realmente “algo de bom para alguém” deve estar baseada em uma fé verdadeira e correta em Deus. Uma “benção” nunca pode estar contaminada por coisas estranhas à fé e à Deus. Se existe invocação de espíritos, invocação do diabo, confiança em sorte, em cartas, em búzios ou em simpatias, esta “benção” está contaminada por superstições e não pela Graça e Poder de Deus. Se você perceber algo de estranho à fé na ação de uma benzedeira, elas devem ser evitadas.

Em terceiro lugar, outra coisa a ser observada é a vida da pessoa que benze: com frequência o dom de cura é dado pelo Espirito Santo a pessoas muito simples, que exercem seu dom com muita humildade transmitindo não somente a cura do corpo, mas também da alma; deve-se observar se a pessoa age em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e se tem uma profunda e correta devoção aos santos e à Igreja; se é pessoa de oração tanto pessoal quanto comunitária, ou seja, se participa da Igreja Católica e dos Sacramentos; se não recorre a espiritismo, macumba, simpatias ou leitura de sorte.

Por fim, uma quarta observação importante: se essa pessoa não cobra nada pelo que faz! O dom de cura é um dom, ou seja, uma graça que a pessoa recebe de Deus; e Deus não cobra nada quando dá esse dom a alguém; portanto, quem abençoa deve fazê-lo com generosidade e gratuidade.
Se você observar esses quatro pontos na ação de uma benzedeira, não há problema algum em receber uma benção.



                                                                                                      Pe. Gilberto Antonio Boçon sdP

sábado, 9 de novembro de 2013

QUANDO OS OUTROS SE CONVERTEM...


Por: Pe. Zezinho


Tenho sobrinhos freqüentando três ou quatro igrejas diferentes porque seus pais fizeram a opção diferente do catolicismo. Alguns e algumas estão voltando, outros permanecem lá, onde formaram a sua fé. Há um ou outro que recentemente foi embora do catolicismo.
Eu sou padre católico, prego para multidões, mas não brinco de dono de almas ou consciências. Quero que meus sobrinhos sejam felizes e tenham com Deus um relacionamento sadio e sincero, mesmo que eu discorde deles. Eles sabem como eu pratico meu catolicismo, sabem como os católicos da família praticam o seu e terão que fazer as suas escolhas praticando também em suas igrejas uma fé serena e sincera.
Pelo menos entre nós não tem havido brigas de fundo religioso, quando nos encontramos há um grande respeito pela fé que cada um seguiu e há uma admiração pelo que há de bom nas igrejas um do outro, embora haja também discordâncias. Mas essas discordâncias nunca nos levaram à discórdia. Acho que podemos dizer que somos uma família ecumênica.
Anos atrás surpreendeu-me uma das minhas sobrinhas, a Adriana, com a afirmação de que estava estudando o catecismo católico e que pretendia torna-se católica e que sua filha, menina ainda, tinha aderido ao catolicismo e queria seguir o catolicismo. Observei-lhe que a sua mãe tinha sido católica e que tornara-se metodista e seu pai era metodista desde sempre. Como ela ficaria com isso? Inteligente que só ela, disse: <
- Da mesma forma que minha mãe lidou com a mudança de religião dela e parece que foi feliz e da mesma forma que meu pai achou que podia conviver com uma pessoa que mudou de religião. Ele terá que aprender a conviver com uma filha que optou por outra igreja e comigo. A consciência é soberana.
De conversa em conversa fiquei sabendo da sua admiração pelos santos católicos porque ela acredita que o sangue de Jesus realmente salva e o céu está cheio de santos. Seu carinho por Maria, a mãe de Jesus, que ela sentia que na Igreja Católica é muito mais citada e valorizada; seu amor pela eucaristia e também o valor que ela dava aos sacramentos e a confissão. Estes e outros motivos a levaram a procurar uma igreja, a preparar-se e a pedir a adesão da Igreja Católica, sabendo dos defeitos e falhas que há na nossa igreja, como sabia dos defeitos e falhas que havia na sua. Seu marido é um sereno adepto do espiritismo. Nem discussões nem crises. Um não força o outro. Nunca a vi falar mal da igreja em que foi formada, como também não ouvi sua mãe falar mal da igreja católica onde fora formada, nem jamais fui desrespeitado por meu excelente cunhado metodista.
Opções nascidas no recôndito da alma costumam ser bem mais serenas. Dificilmente descambam para o fanatismo. Quem muda quer ser mais ele mesmo e não mais do que os outros.
Tenho acompanhado a caminhada da minha sobrinha sem interferir, até porque, por respeito a mim, ela buscou orientação de outro padre. De vez em quando lê minhas matérias e meus artigos e concorda ou discorda, mas está se tornando uma católica cheia de perguntas e de respostas. E eu oro para que suas convicções se fortaleçam, mas não brinco de querer fazer alguém católico do meu jeito. Se ela negasse algum dogma católico, eu teria que explicar-lhe e deixar que decidisse, mas até o momento não a vi fazer isso. Então, fico feliz de ver o seu crescimento, suas dúvidas, suas interrogações. Ela é uma das pessoas que me levou a escrever este livro. Adriana e sua linda filha e seu excelente marido que tem respeito pelo catolicismo, mas tem o seu caminho próprio de espiritualidade.
Esses dias disse com clareza e afeto a um sobrinho que estuda medicina que não iria à sua formatura se soubesse que ele defende a prática do aborto. Fui radical. Ele riu. Sabe que como pessoa e como padre optei pela defesa da vida, sobretudo a mais fragilizada. Não; eu não me considero um iluminista, nem fundamentalista, nem exclusivista, nem excludente. Tenho fé e, se dependesse de mim, gostaria que o mundo inteiro fosse católico, mas não depende de mim. Deus é que é o Senhor das consciências e é ele quem sabe o que espera de cada filho e como chamará e motivará cada um.
Não pretendo usar de nenhum truque para tornar alguém católico. Mas, se uma pessoa quiser se tornar católica, tentarei mostrar-lhe alguns aspectos do catolicismo que me encantam e pelos os quais nele permaneço. Sei que outras pessoas de outras religiões também irão para o céu e que também conhecem Jesus e também têm perguntas e dúvidas como eu.
Sou daqueles que insistem que se pode ver a cachoeira de muitos lados e de muitas colinas e sei que a descrição será sempre diferente, mas podemos todos beber da mesma água, porque se trata da mesma cachoeira. Visão é uma coisa, fé é outra. O telescópio nos Estados Unidos onde eu vi os anéis de Saturno era maravilhoso, poderoso; quando tornei a ver os anéis de Saturno no telescópio, no Brasil achei maravilhoso, poderoso. Eram dois telescópios diferentes, à distância de quase dez mil quilômetros. No entanto, estávamos vendo os mesmos anéis de Saturno com condições atmosféricas diferentes. Continuei convicto de que em todos os telescópios pelos quais olhei para ver as estrelas as visões embora diferentes, mostravam a mesma realidade. As conclusões nossas é que às vezes podem ser outras.

Então, quando alguém que lê a mesma Bíblia que eu leio e conclui diferente, eu respeito; posso até discordar, mas respeito. E, quando ele quer me impor a sua leitura de Bíblia e a sua visão, tiro os meus óculos, ponho nos olhos dele e digo:
-Este é o instrumento pelo qual eu vejo bem. Você consegue ver bem por ele?
Faço, então, entender que meus óculos me ajudam a ver bem, porque servem para a minha miopia. Os dele não servem para a minha, nem os meus para a dele. Então, que ele trate de achar os seus óculos e respeitar os meus, porque eu respeito os dele. Com a Bíblia é a mesma coisa. Não venha brigar comigo por causa de suas versões e traduções, porque eu já li provavelmente os mesmos livros que ele leu e ainda outros; não me venha gritar do lado de lá que eu do lado de cá da minha colina não posso ver direito a cachoeira; eu sei o que estou vendo e, se ele acha que está vendo muito, palmas para ele, mas respeite a minha luneta, a minha colina, os meus óculos, a minha visão e a minha interpretação. E, se nós dois soubéssemos nadar nas águas puras que vêm da cachoeira, seria bom que fôssemos beber juntos da mesma água, bem no centro do rio que ela forma. Aí, veríamos o que é anunciar e beber das águas eternas.
Só porque ele fez uma praia confortável do lado de lá do rio dele isso não significa que suas águas são mais limpas; só porque eu fiz um pequeno dique do lado de cá do rio não significa que as águas do meu dique são mais limpas; são as mesmas águas. Mas ambos podemos sujar o nosso lado das águas; e a pior sujeira que se pode fazer com as águas eternas é alguém apossar-se delas e dizer que só ali é que existe água de primeira qualidade.
Chego a sentir pena de certos pregadores que, para fazer discípulos para Cristo, primeiro os trazem para si, tirando-os dos outros. Vão buscar ouvintes entre os ouvintes dos outros. Ao invés de pregar a fé, a tolerância e o diálogo, pregam uma certeza que ninguém pode ter porque o justo vive da fé; e levam os fiéis das outras igrejas e da sua, mas de outros movimentos, a acreditar que só ali se encontra a graça de Deus
São cristãos de coração muito grande, mas de mente estreita. Fé, para ser boa, não basta ser generosa; também tem que ser inteligente e compassiva, porque, se não o for não conseguirá ser nem mesmo dialogante.
Pe. Zezinho scj


http://www.padrezezinhoscj.com/wallwp/artigos_padre_zezinho/comportamental/quando-os-outros-se-convertem

terça-feira, 5 de novembro de 2013

A BÍBLIA PROÍBE O USO DE IMAGENS?





Sim, a Bíblia proíbe o uso e a construção de imagens! E condena de uma forma bastante clara! E quem adora imagens está muito errado. Mas já ouvi pessoas dizendo que a Igreja Católica omite e evita falar dos textos que condenam o uso de imagens.  Mas ao menos que eu saiba a Igreja não rasgou as páginas da Bíblia que falam isso. Estas passagens estão lá, tanto na Bíblia dos Evangélicos como na dos Católicos.
Vejamos alguns textos:

Êxodo 20,4-5
Deus disse: “Não farás para ti imagem de escultura, nem semelhança alguma do que há em cima nos céus, nem embaixo na terra, nem nas águas debaixo da terra. Não as adorarás, nem lhes darás culto; porque eu sou o SENHOR, teu Deus, Deus zeloso...”

Jeremias 51,47; cf. Isaías 21,9
“Portanto, eis que vêm dias, em que castigarei as imagens de escultura da Babilônia, toda a sua terra será envergonhada, e todos os seus cairão traspassados no meio dela”

Ezequiel 30,13-19
O Egito, também, foi condenado por sua idolatria: “Assim diz o SENHOR Deus: Também destruirei os ídolos e darei cabo das imagens em Mênfis.... Assim, executarei juízo no Egito, e saberão que eu sou o SENHOR”

 Salmo 134
Os ídolos dos pagãos não passam de prata e ouro, são obras de mãos humanas.Têm boca e não podem falar; têm olhos e não podem ver;têm ouvidos e não podem ouvir. Não há respiração em sua boca.Assemelhem-se a eles todos os que os fizeram, e todos os que neles confiam.

           Êxodo 32,7-11.13-14
O Senhor disse a Moisés: “Vai, desce, porque se corrompeu o povo que tiraste do Egito. Desviaram-se depressa do caminho que lhes prescrevi; fizeram para si um bezerro de metal fundido, prostraram-se diante dele e ofereceram-lhe sacrifícios, dizendo: eis, ó Israel, o teu Deus que te tirou do Egito.


Estes textos estão também na Bíblia Católica e a Igreja nunca os escondeu de ninguém. Mas se não me engano, na Bíblia Evangélica também existem textos nos quais Deus manda, ordena, a construção de Imagens e que devem ser lidos e não esquecidos. Vejamos alguns:

(Números 21,8)
“Faze para ti uma serpente ardente e mete-a sobre um poste. Todo o que for mordido, olhando para ela, será salvo.”

            (Êxodo 25,18)
Durante a construção da Arca da Aliança, Deus manda construir os querubins: “Farás dois querubins (anjos) de ouro, de ouro batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório” .

(Conferir I Reis. 6,23-35 e 7,29).  
Durante a Construção do Templo de Jerusalém, Deus manda, ainda, a Salomão enfeita-lo com imagens de querubins (“Fez no santuário dois querubins de pau de oliveira, que tinham dez côvados de altura”), palmas, flores, bois e leões



Como entender tudo isso? Por um lado Deus condena o uso de imagens e por outro manda construir? Aqui temos que entender estes textos bíblicos dentro do seu contexto histórico e cultural.
Na época em que estes textos foram escritos estamos num contexto de idolatria, ou seja, de religiões chamadas “pagãs” que adoravam imagens como se aquelas imagens fossem seus deuses: um bezerro, um gato, uma águia... Por isso nos textos acima temos referências a lugares e religiões determinadas: Babilônia, Egito, Pagãos...
O uso de imagens feito pelas religiões pagãs e idólatras destes lugares é muito diferente do nosso: para nós as imagens são como fotografias que usamos pra visualizar e assim recordar mais facilmente o testemunho de cristãos que marcaram nossa fé e nos indicam que é possível chegar até Deus. Para estes povos e religiões as imagens eram consideradas deuses. Por isso o profeta Habacuc diz: "Ai daquele que diz ao pau: Acorda, e à pedra muda: Desperta" (Hc 2, 19).

Percebemos com isso que o grande problema não está na construção das imagens ou em ter ou não imagens, mas o grande problema está na forma como se usam as imagens. Para nós católicos as imagens não são amuletos. Para os povos pagão eram como amuletos da sorte. Aqui temos uma diferença muito grande.
Portanto, se algum católico adora imagens ou as usa como amuleto, a sua devoção e fé estão erradas, assemelhando-se ao culto pagão. Deve este, portanto, corrigir sua fé.


Concluo aqui com as palavras do Concílio de Trento que afirma o seguinte: 

As imagens de Jesus Cristo, da Mãe de Deus, e dos outros santos, podem ser adquiridas e conservadas, sobretudo nas Igrejas, e se lhes pode prestar honra e veneração; não porque há nelas qualquer virtude ou qualquer coisa de divino, ou para delas alcançar qualquer auxílio, ou porque se tenha nelas confiança, como os pagãos de outrora, que colocavam a sua esperança nos ídolos, mas, sim, porque o culto que lhes é prestado dirige-se ao original que representam, de modo que nas imagens que possuímos, diante das quais nos descobrimos ou inclinamos a cabeça, nós adoramos Cristo, e veneramos os santos que elas representam”. (Sess XXV)



Pe. Gilberto Antonio Boçon sdP