quinta-feira, 19 de setembro de 2013

ADORAÇÃO, DEVOÇÃO, FÉ, SIMPATIA, MACUMBA...



Caros amigos leitores, chegamos ao mês de junho, mês em que celebramos o dia de Santo Antônio de Pádua, padroeiro de nossa Paróquia. É por este motivo que gostaria de refletir um pouco com vocês a respeito da devoção e fé que nós católicos temos em relação não só a Santo Antônio, como a todos os santos canonizados pela Igreja.

Pensei em refletir sobre isso porque é de se admirar que católicos ainda hoje tenham uma ideia errada do que seja devoção. Certa vez ouvi uma pessoa muito católica que, depois de ter ouvido os argumentos dos evangélicos em relação à devoção aos santos disse: “Padre, gosto muito da minha Igreja. Nasci nela e vou morrer nela. Mas a única coisa que ela tem de errado e que precisa mudar é a adoração de imagens”. Parece desgastante falar sobre o assunto porque me parece uma coisa muito óbvia e simples. De fato, a Sagrada Escritura condena quem adora imagens. Mas também nós católicos condenamos quem adora imagens! O Antigo Testamento condena com muita verdade pessoas ou povos que “construíam” seus deuses; basta lembrar a construção da imagem do bezerro de ouro. Para o povo que o fez, aquele bezerro era seu deus e o povo o adorava. Isso é um grave desvio de fé: acreditar que aquela imagem é deus. Nós católicos não estamos errados em relação a isso e nem estamos deixando de observar este mandamento da Bíblia. Por que? Porque temos as imagens em nossas igrejas ou casas simplesmente como um símbolo, como uma representação, ou poderíamos dizer, como uma “foto” que “representa” o santo. E este santo para nós não toma nunca o lugar de Deus, mas é um “amigo” que está junto de Deus e que pede a Deus por nós. Por isso falamos em nossa “Profissão de fé”, rezada em todas as missas dominical, que acreditamos na “comunhão dos santos”. O que isso significa? Significa que nós que estamos aqui na terra podemos rezar por quem está no céu ou no purgatório (por isso apresentamos nossas intenções pelos falecidos na missa), e quem está no céu, mais perto de Deus, pode nos dar uma “ajudinha” diante de Deus.

O Santo não faz milagre algum; o que ele faz é pedir a Deus que faça um milagre para nós que estamos pedindo. Em outras palavras dizemos: “Santo Antônio, você que está ai no céu mais perto de Deus, peça a Ele esta graça que estou precisando!” Santo Antônio pede; Deus concede ou não a graça, dependendo se aquilo que pedimos realmente vai ser bom para nós e para nossa salvação! Disso decorre outro desvio da nossa devoção aos santos e que é muito comum em relação à figura de Santo Antônio, tido como o “santo casamenteiro”. Refiro-me à atitude de moças que, em busca de casamento, colocam a imagem do santo de cabeça para baixo num copo de água ou cachaça, dentro da geladeira, tiram a imagem do menino Jesus dos seus braços... Quando me perguntam se isso realmente funciona eu respondo: “sim, pode ser que funcione. Mas e se Santo Antônio ficar estressado com a sacanagem que você está fazendo com ele e resolver t mandar um marido ruim?!”

Algo similar acontece quando acreditamos no poder de uma macumba. Será que uma galinha morta, uma garrafa de cachaça, uma vela e um sabonete junto tem poder de influenciar negativamente nossa vida ou tem mais poder do que Deus para nos proteger do mal? Nossa devoção não é mágica. Objetos não tem mais poder do que Deus. Não podemos comprar graças; não podemos forçar ou obrigar Deus a atender tudo o que pedimos através de simpatias ou uso de amuletos. A fé é entrega e confiança; simpatia como uma atitude mágica de conseguir algo ou negociar com Deus ou com um santo não é uma atitude saudável de fé, mas um desvio que deve ser corrigido.



PE. GILBERTO BOÇON SDP
artigo publicado no jornal "Voz dos Paduanos" (Junho 2013)