Caros amigos leitores, chegamos ao mês de junho, mês em que
celebramos o dia de Santo Antônio de Pádua, padroeiro de nossa Paróquia. É por
este motivo que gostaria de refletir um pouco com vocês a respeito da devoção e
fé que nós católicos temos em relação não só a Santo Antônio, como a todos os
santos canonizados pela Igreja.
Pensei em refletir sobre isso porque é de se admirar que
católicos ainda hoje tenham uma ideia errada do que seja devoção. Certa vez ouvi
uma pessoa muito católica que, depois de ter ouvido os argumentos dos
evangélicos em relação à devoção aos santos disse: “Padre, gosto muito da minha
Igreja. Nasci nela e vou morrer nela. Mas a única coisa que ela tem de errado e
que precisa mudar é a adoração de imagens”. Parece desgastante falar sobre o
assunto porque me parece uma coisa muito óbvia e simples. De fato, a Sagrada
Escritura condena quem adora imagens. Mas também nós católicos condenamos quem
adora imagens! O Antigo Testamento condena com muita verdade pessoas ou povos
que “construíam” seus deuses; basta lembrar a construção da imagem do bezerro
de ouro. Para o povo que o fez, aquele bezerro era seu deus e o povo o adorava.
Isso é um grave desvio de fé: acreditar que aquela imagem é deus. Nós católicos
não estamos errados em relação a isso e nem estamos deixando de observar este
mandamento da Bíblia. Por que? Porque temos as imagens em nossas igrejas ou
casas simplesmente como um símbolo, como uma representação, ou poderíamos
dizer, como uma “foto” que “representa” o santo. E este santo para nós não toma
nunca o lugar de Deus, mas é um “amigo” que está junto de Deus e que pede a
Deus por nós. Por isso falamos em nossa “Profissão de fé”, rezada em todas as
missas dominical, que acreditamos na “comunhão dos santos”. O que isso
significa? Significa que nós que estamos aqui na terra podemos rezar por quem
está no céu ou no purgatório (por isso apresentamos nossas intenções pelos
falecidos na missa), e quem está no céu, mais perto de Deus, pode nos dar uma
“ajudinha” diante de Deus.
O Santo não faz milagre algum; o que ele faz é pedir a Deus
que faça um milagre para nós que estamos pedindo. Em outras palavras dizemos:
“Santo Antônio, você que está ai no céu mais perto de Deus, peça a Ele esta
graça que estou precisando!” Santo Antônio pede; Deus concede ou não a graça,
dependendo se aquilo que pedimos realmente vai ser bom para nós e para nossa
salvação! Disso decorre outro desvio da nossa devoção aos santos e que é muito
comum em relação à figura de Santo Antônio, tido como o “santo casamenteiro”.
Refiro-me à atitude de moças que, em busca de casamento, colocam a imagem do
santo de cabeça para baixo num copo de água ou cachaça, dentro da geladeira,
tiram a imagem do menino Jesus dos seus braços... Quando me perguntam se isso
realmente funciona eu respondo: “sim, pode ser que funcione. Mas e se Santo Antônio
ficar estressado com a sacanagem que você está fazendo com ele e resolver t
mandar um marido ruim?!”
Algo similar acontece quando acreditamos no poder de uma
macumba. Será que uma galinha morta, uma garrafa de cachaça, uma vela e um
sabonete junto tem poder de influenciar negativamente nossa vida ou tem mais
poder do que Deus para nos proteger do mal? Nossa devoção não é mágica. Objetos
não tem mais poder do que Deus. Não podemos comprar graças; não podemos forçar
ou obrigar Deus a atender tudo o que pedimos através de simpatias ou uso de
amuletos. A fé é entrega e confiança; simpatia como uma atitude mágica de
conseguir algo ou negociar com Deus ou com um santo não é uma atitude saudável
de fé, mas um desvio que deve ser corrigido.
PE. GILBERTO BOÇON SDP
artigo publicado no jornal "Voz dos Paduanos" (Junho 2013)